La Niña amplia contrastes climáticos no Brasil

Rio Paraná 10 m abaixo do nível
Com nível 10 metros abaixo do normal, Rio Paraná já tem extensa faixa do leito sem água.              Foto: Marcos Landim/RPC

Áreas do Sul seguem com estiagem enquanto no Norte/Nordeste do país, as chuvas intensas causam alagamentos e a cheia dos rios

A crise hídrica que afeta todo o centro-sul do Brasil já traz prejuízos devastadores para a agricultura e interfere na geração de energia elétrica de Itaipu, a segunda maior do mundo. O rio Paraná, segundo maior da América latina, está com 10 metros abaixo do normal, o menor dos últimos 70 anos.  O Rio Uruguai, que faz divisa do Rio Grande do Sul com a Argentina também registra níveis preocupantes devido à estiagem.  Na região de São Borja/RS,  extensas áreas do leito estão secas e verifica-se, ainda, grande quantidade de peixes mortos.

A chuva voltou para o Sul do Brasil, mas de forma muito irregular. Um ciclone extratropical e uma frente fria provocaram pancadas de chuva na região Sul nos primeiros dias do ano, com acumulados em torno de 80 milímetros no Paraná e 60 milímetros no Rio Grande do Sul. Boa parte dessa chuva ficou na faixa leste da região Sul, ou seja, não caiu onde realmente precisa, nas áreas produtivas. E as previsões são de que a chuva volte a ficar escassa no Sul nos próximos dias.

Em contraste a este cenário, fortes chuvas têm caído nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, provocando alagamentos, danos estruturais em cidades, rodovias e pontes e causando até mortes. Por conta das chuvas intensas dos últimos dias, o nível do rio Tocantins subiu 11,8 metros acima do normal, deixando dezenas de famílias desabrigadas em Imperatriz, no Maranhão. A prefeitura de Marabá, no Pará, também relatou danos devido ao nível elevado do rio Tocantins, com várias famílias desabrigadas.

A Defesa Civil do Município de Marabá informou que nesta mesma data no ano passado, o nível do rio estava em 3,78 metros, uma diferença de 8 metros em comparação ao período atual. Assim, devido a cheia, Marabá, no Pará, decretou situação de emergência e iniciou ações de atendimento às famílias atingidas.

Pelas estações da Rede Hidrometeorológica Nacional, do governo e da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), em Itupiranga, PA, o nível do rio Tocantins era de 12,59 metros acima do seu nível normal. Já em Tupiratins, no Tocantins, o nível atingiu 11,8 metros na quarta-feira, 05 de janeiro.

Perdas na agricultura

A estiagem e as altas temperaturas que têm predominado no Sul do Brasil, incluindo Mato Grosso do Sul, desde o início de novembro do ano passado, atingiram com força a safra de soja 2021/22. Um levantamento concluído nesta semana pela AgRural reduziu a produção estimada para o Brasil em 11,3 milhões de toneladas na comparação com a projeção de um mês atrás, para 133,4 milhões de toneladas.

O número já é menor que o recorde de 137,3 milhões de toneladas da safra passada e representa quebra de 12 milhões de toneladas em relação à produção potencial de 145,4 milhões divulgada no início de novembro. A produção de 133,4 milhões de toneladas baseia-se em área de 40,6 milhões de hectares (inalterada em relação a dezembro) e em produtividade média de 54,8 sacas por hectare, a mais baixa desde a safra 2015/16.

O estado mais afetado até agora é o Paraná. Após as perdas registradas no oeste (ainda a região mais severamente atingida), a safra também viu seu potencial diminuir em outras regiões do estado devido à piora da seca e do calor ao longo de dezembro. Não fossem as chuvas um pouco mais regulares na metade leste do estado, a quebra seria ainda maior.

A AgRural também cortou a produtividade esperada para os outros dois estados do Sul. Em Santa Catarina, as chuvas têm sido um pouco mais regulares e a safra não está tão ruim quanto no Paraná, mas a produtividade média estimada já é inferior à do ano passado.

O Rio Grande do Sul, por sua vez, teve um corte mais agressivo porque, embora a definição de sua safra ocorra somente no começo do ano, o tempo muito quente e seco de dezembro resultou em encurtamento do ciclo em diversas áreas, que têm plantas de porte muito baixo já em floração e início de formação de vagens. Chuvas e temperaturas mais amenas são necessárias imediatamente para evitar mais perdas no estado.

 Com informações do Canal Rural