Na primavera, quando as ruas de terra e os quintais do povoado Ipê se enchem de pétalas, a comunidade inteira parece respirar em cores. Dezenas de ipês florescem como coroas sobre o povoado. Amarelos, roxos, rosas e tons que fazem lembrar aquarelas. Não é apenas beleza, mas um laço coletivo cultivado há décadas.
Segundo moradores, as árvores que hoje emolduram o povoado foram plantadas há mais de quarenta anos. A relação entre o lugar e a árvore remonta ainda antes disso: relatos orais reunidos contam que, ao abrir a picada que daria origem ao povoado, os primeiros moradores encontraram uma imensa árvore de ipê e várias outras no entorno. Foi esse encontro que inspirou o nome do povoado. Um batismo natural, nascido da surpresa diante da imponência da flora nativa.
“O ipê apareceu no caminho deles; por isso deram o nome ao povoado”, resume o histórico recolhido com pessoas mais idosas da comunidade e guardado como peça de memória local. Hoje, essa mesma história é motivo de orgulho. “Nós que pertencemos à comunidade valorizamos muito estas árvores. Principalmente agora que elas estão florescendo assim, a gente fica apaixonado”, diz uma voz da vila que, entre lembranças e registros, reforça o quanto o ipê integra a identidade do lugar.

Além do valor histórico e estético, as árvores cumprem um papel social: oferecem sombra, embelezam espaços públicos e privados e funcionam como pontos de encontro e referência para vizinhos e visitantes. Para muitos, ver os ipês desabrochando é como receber um presente anual que convida à contemplação e à gratidão. Em versos simples e tocantes, uma moradora sintetizou esse sentimento: “Há os ipês, floridos, coloridos, lindos! Nos dão sombra no verão e, na primavera, viram reis… O fato é que o nome da vila nos inspirou a plantá-los. Não nos arrependemos, porque plantar nos faz bem à alma, nos traz paz…”
A preservação desses exemplares, portanto, não é só questão de paisagismo, mas também um cuidado com a história. Plantar e proteger ipês significa firmar raízes, garantir que as próximas gerações conheçam a mesma beleza que inspirou seus antepassados e manter viva a narrativa que receberam por herança. Moradores recordam com carinho as conversas com os mais velhos, sob a sombra das flores e diante do colorido horizonte.
Em tempos em que muitas paisagens rurais perdem sua vegetação, o povoado Ipê se destaca como um relicário de afeto e resistência. A cada flor que cai, nasce uma lembrança; a cada nova muda plantada, renova-se a promessa de que o povoado permanecerá colorido e acolhedor. A lição que fica é simples: cuidar das árvores é cuidar da história. E, no povoado Ipê, as flores são prova de que lembrar e cultivar andam de mãos dadas.