Entre os principais estados produtores de soja do país, o Rio Grande do Sul é o que mais sofre perdas em razão das estiagens. De acordo com o pesquisador José Renato Bouças Farias, da Embrapa Soja, o Estado é privado de uma safra em cada quatro ciclos pela escassez hídrica.
“Em alguns anos, se perde mais de 50% da produtividade. É um negócio violento. Em outros anos, perde 20%, 30%. Então, estimamos uma safra perdida a cada quatro anos”, explica o pesquisador, autor de um estudo sobre o tema junto com dois colegas.
O prejuízo mais notável, conforme Farias, ocorreu na safra de 2004/2005, quando a produtividade da área plantada com o grão sofreu uma queda de 78% no Estado. No Paraná, a quebra atingiu 23%.
“Naquela época, o Rio Grande do Sul estava produzindo a faixa de 2,5 mil ou 2,6 mil quilos por hectare e obteve menos de 700 quilos por hectare, em média”, detalha Farias.
A sensibilidade da cultura em solo gaúcho torna-se ainda mais preocupante quando se considera a importância econômica e estratégica da soja. Terceiro maior produtor do grão entre as unidades da Federação, atrás de Mato Grosso e Paraná, a soja responde por 31% do Valor Bruto da Produção Agropecuária, conforme o relatório Radiografia da Agropecuária Gaúcha, da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). Em 2023, o chamado Complexo Soja movimentou, no RS, R$ 39,87 bilhões. O valor supera em 28,2% o total investido pelo Palácio Piratini em saúde entre 2019 e 2024 (R$ 31,1 bi).
Entre os setores do agro diretamente afetados pela baixa oferta de leguminosas, Farias lista a avicultura, a produção de ovos, a suinocultura e até mesmo a piscicultura. “Não tem criação de peixe se não tem soja, 90% da ração de peixe é soja”, diz.
Manejos devem receber atenção
Para o pesquisador, o problema mais grave nas perdas da soja está relacionado ao manejo do solo.
“Estamos esquecendo de utilizar o solo como um grande repositório, um grande elemento de disponibilidade de água para a cultura”, aponta.
O manejo malfeito, diz ele, se reflete no uso cada vez mais reduzido de curvas de nível e de terraço, além do plantio direto precário, sem diversificação de culturas.
“Isso não facilita a infiltração de água no solo. Esse só, na hora que começa a faltar água, não tem capacidade de disponibilizar maior volume para a planta”, explica. “Muito conseguiríamos amenizar o impacto da falta de água de chuva ou da ocorrência de seca por meio da adoção de boas práticas de manejo do solo”, garante Farias.