Apesar de se falar muito da enchente que atingiu a capital gaúcha e região dos vales no ano de 1941, existem registros de pelo menos outras oito inundações que acometeram os gaúchos, uma delas, no ano de 1873.
Os jornais apresentaram a enchente de 1873 no Rio Grande do Sul como “pavorosa”, “extraordinária” e “uma das mais desastrosas”. A chuva do início de outubro provocou mortes e destruição nas margens dos rios Taquari, Jacuí, Sinos, Caí e Gravataí. O Guaíba invadiu as ilhas e a cidade de Porto Alegre.
Pelo censo de 1872, a província estava com 434 mil habitantes. Porto Alegre concentrava 43,9 mil moradores, sendo 8 mil escravizados. São Leopoldo era o segundo município com a maior população, somando 30 mil pessoas na cidade e nas áreas rurais. A inundação de 1873 foi considerada a maior até a grande enchente de 1941. O Guaíba teria atingido 3m50cm.
Os viajantes e os jornais levavam as notícias adiante naquela época. O Diário do Rio de Janeiro reproduziu os textos dos periódicos que chegavam de Porto Alegre nos navios, com dias de atraso. Em 21 de outubro, publicou as notícias de 8 de outubro, quando o Guaíba superou o paredão da doca, inundando as entradas de quase todas as ruas que chegavam à praia. Na Rua Voluntários da Pátria, só era possível passar de canoa.
A água invadiu os armazéns às margens do Guaíba, destruindo os alimentos estocados. Faltaram produtos básicos e os preços subiram de “maneira extraordinária”. Na várzea do Gravataí, área de criação de gado, “perto de mil animais” morreram afogados.
Os vapores ficaram sem combustível para as caldeiras, porque toda a lenha nas margens dos rios foi levada pela água. A navegação era o meio de transporte mais rápido entre Porto Alegre e o interior do Estado.
Os barcos chegaram de São Leopoldo e Taquari com “notícias tristíssimas”. Nas margens do Rio Taquari, a enchente levou quase todas as casas entre Estrela e Taquari, causando “cinco ou seis mortes”. O engenho da família Mariante, no atual município de Venâncio Aires, foi destruído. Em São Leopoldo, a enchente inundou 75% da cidade. Uma criança e uma idosa morreram. O vapor Germânia fez resgates das famílias que moravam às margens do Rio dos Sinos.
Em Palmares do Sul e Mortardas, fazendeiros perderam gado. Os danos foram grandes também nas plantações no interior do Estado. Em Pelotas, as margens do Arroio São Gonçalo ficaram inundadas, causando prejuízos nas charqueadas.
Os faroleiros pediram socorro e abandonaram o farol em ilha de Rio Grande. O capitão do barco inglês Gladiateu, que chegou em 17 de outubro na cidade portuária, comunicou ter encontrado água doce a “30 milhas da barra”.
O jornal ‘O Despertador’ descreveu que os pobres habitantes das ilhas de Porto Alegre ficaram “trepados nos telhados das casas” pedindo socorro por sinais. Vapores fizeram os salvamentos.
O relatório do presidente da província, João Pedro Carvalho de Moraes, aponta que a chuva do início de outubro fez o nível do Guaíba atingir “proporções enormes, produzindo grandes prejuízos”. A Câmara Municipal nomeou comissão para receber e distribuir donativos. Os desabrigados foram removidos para um prédio destinado aos imigrantes em passagem pela cidade.
O imperador Dom Pedro II ofereceu ajuda financeira de oito contos de réis, distribuída em Taquari, São Leopoldo, Montenegro, Triunfo, São Jerônimo e nas ilhas de Porto Alegre.
A capital gaúcha registrou várias outras enchentes. Registros históricos resgatados pelo Jornal Correio do Povo testemunham pelo menos outras oito grandes enchentes que marcaram a história de Porto Alegre.
Nos relatos da época, também detalhes sobre o drama das cheias no Vale do Taquari. Foi em uma enchente, inclusive, que a histórica ponte da Azenha foi destruída, em julho de 1897.
Nos anos que se seguiram, a repetição dos episódios acompanhavam outros grandes problemas da cidade. Em 1905, por exemplo, as águas do Guaíba avançaram em direção a uma Porto Alegre já assolada pela epidemia da varíola. Em 1912, as cheias interromperam o trânsito de carroças responsáveis pela limpeza e as águas acabaram levando dejetos fecais para a área central da cidade.
O historiador e jornalista Sérgio da Costa Franco escreveu o livro “As Grandes Enchentes de Porto Alegre”, publicado pelo Correio do Povo em setembro de 1983. O livro traz registros de enchentes que atingiram a capital gaúcha e região dos vales nos seguintes anos:
– 1873: outubro
– 1897: junho
– 1905: agosto
– 1912: de maio a setembro
– 1914: setembro
– 1926: de 25 de setembro a 2 de outubro
– 1928: duas enchentes
– 1936: de 1º a 14 de outubro
– 1941: maio, a maior